sábado, 28 de julho de 2007

“ENFIM, SÓ!”

Tem sido objecto de muitas citações. Como tem sido transcrito em muitos posts e mails.
É, de facto, um texto paradigmático quanto a um sentir, na época que vivemos.
Daí o merecer integrar o APOSTILA.

É um artigo de António Barreto, na sua coluna periódica do Público, em matéria de opinião, “Retrato da Semana”, na edição de 27 de Maio do ano que corre, intitulado Enfim, só!
É uma análise serena, tão mordaz como impiedosa e tão impiedosa como merecida.
É o indivíduo e o político por uma pena. Um retrato soberbo pela grande qualidade do observador-autor.
(…)












DM 27MAI07

ESPAÇO PÚBLICO/OPINIÃO


Retrato da Semana






«Enfim, só!
27.05.2007, António Barreto

Sem partido que o incomode, sem ministros politicamente competentes e sem oposição à altura, Sócrates trata de si

A saída de António Costa para a Câmara de Lisboa pode ser interpretada de muitas maneiras. Mas, se as intenções podem ser interessantes, os resultados é que contam. Entre estes, está o facto de o candidato à autarquia se ter afastado do governo e do partido, o que deixa Sócrates praticamente sozinho à frente de um e de outro. Único senhor a bordo tem um mestre e uma inspiração. Com Guterres, o primeiro-ministro aprendeu a ambição pessoal, mas, contra ele, percebeu que a indecisão pode ser fatal. A ponto de, com zelo, se exceder: prefere decidir mal, mas rapidamente, do que adiar para estudar. Em Cavaco, colheu o desdém pelo seu partido. Com os dois e com a sua própria intuição autoritária, compreendeu que se pode governar sem políticos.

Onde estão os políticos socialistas? Aqueles que conhecemos, cujas ideias pesaram alguma coisa e que são responsáveis pelo seu passado? Uns saneados, outros afastados. Uns reformaram-se da política, outros foram encostados. Uns foram promovidos ao céu, outros mudaram de profissão. Uns foram viajar, outros ganhar dinheiro. Uns desapareceram sem deixar vestígios, outros estão empregados nas empresas que dependem do Governo. Manuel Alegre resiste, mas já não conta. Medeiros Ferreira ensina e escreve. Jaime Gama preside sem poderes. João Cravinho emigrou. Jorge Coelho está a milhas de distância e vai dizendo, sem convicção, que o socialismo ainda existe. António Vitorino, eterno desejado, exerce a sua profissão. Almeida Santos justifica tudo. Freitas do Amaral reformou-se. Alberto Martins apagou-se. Mário Soares ocupa-se da globalização. Carlos César limitou-se definitivamente aos Açores. João Soares espera. Helena Roseta foi à sua vida independente. Os grandes autarcas do partido estão reduzidos à insignificância. O Grupo Parlamentar parece um jardim-escola sedado. Os sindicalistas quase não existem. O actual pensamento dos socialistas resume-se a uma lengalenga pragmática, justificativa e repetitiva sobre a inevitabilidade do governo e da luta contra o défice. O ideário contemporâneo dos socialistas portugueses é mais silencioso do que a meditação budista. Ainda por cima, Sócrates percebeu depressa que nunca o sentimento público esteve, como hoje, tão adverso e tão farto da política e dos políticos. Sem hesitar, apanhou a onda.

Desengane-se quem pensa que as gafes dos ministros incomodam Sócrates. Não mais do que picadas de mosquito. As gafes entretêm a opinião, mobilizam a imprensa, distraem a oposição e ocupam o Parlamento. Mas nada de essencial está em causa. Os disparates de Manuel Pinho fazem rir toda a gente. As tontarias e a prestidigitação estatística de Mário Lino são pura diversão. E não se pense que a irrelevância da maior parte dos ministros, que nada têm a dizer para além dos seus assuntos técnicos, perturba o primeiro-ministro. É assim que ele os quer, como se fossem directores-gerais. Só o problema da Universidade Independente e dos seus diplomas o incomodou realmente. Mas tratava-se, politicamente, de questão menor. Percebeu que as suas fragilidades podiam ser expostas e que nem tudo estava sob controlo. Mas nada de semelhante se repetirá.

O estilo de Sócrates consolida-se. Autoritário. Crispado. Despótico. Irritado. Enervado. Detesta ser contrariado. Não admite perguntas que não estavam previstas. Pretende saber, sobre as pessoas, o que há para saber. Deseja ter tudo quanto vive sob controlo. Tem os seus sermões preparados todos os dias. Só ele faz política, ajudado por uma máquina poderosa de recolha de informações, de manipulação da imprensa, de propaganda e de encenação. O verdadeiro Sócrates está presente nos novos bilhetes de identidade, nas tentativas de Augusto Santos Silva de tutelar a imprensa livre, na teimosia descabelada de Mário Lino, na concentração das polícias sob seu mando e no processo que o Ministério da Educação abriu contra um funcionário que se exprimiu em privado. O estilo de Sócrates está vivo, por inteiro, no ambiente que se vive, feito já de medo e apreensão. A austeridade administrativa e orçamental ameaça a tranquilidade de cidadãos que sentem que a sua liberdade de expressão pode ser onerosa. A imprensa sabe o que tem de pagar para aceder à informação. As empresas conhecem as iras do Governo e fazem as contas ao que têm de fazer para ter acesso aos fundos e às autorizações.

Sem partido que o incomode, sem ministros politicamente competentes e sem oposição à altura, Sócrates trata de si. Rodeado de adjuntos dispostos a tudo e com a benevolência de alguns interesses económicos, Sócrates governa. Com uma maioria dócil, uma oposição desorientada e um rol de secretários de Estado zelosos, ocupa eficientemente, como nunca nas últimas décadas, a Administração Pública e os cargos dirigentes do Estado. Nomeia e saneia a bel-prazer. Há quem diga que o vamos ter durante mais uns anos. É possível. Mas não é boa notícia. É sinal da impotência da oposição. De incompetência da sociedade. De fraqueza das organizações. E da falta de carinho dos portugueses pela liberdade.»




(Veja em RETRATO, no N&R desta mesma data, o resto do texto introdutório)

segunda-feira, 9 de julho de 2007

“OS BUFOS...”

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Público.pt

DM 08JUL07

ESPAÇO PÚBLICO/OPINIÃO

Editorial

Os bufos e o aparelho dos partidos

08.07.2007

Ao contrário de Guterres, que, no primeiro dia, pôs os boys no seu devido lugar, Sócrates e os seus ministros nada fizeram para convencer os militantes de que não é assumindo o papel de agentes infiltrados que melhor servem o partido e o país

Fernando Charrua, funcionário da DREN, ou Maria Celeste Cardoso, a directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho que o ministro de Saúde exonerou, não são vítimas de um qualquer fenómeno que chegou de surpresa para criar um clima de delação nas repartições públicas do país. Nada indica que os seus casos tivessem chegado ao Governo em consequência de qualquer acto político deliberadamente aprovado para apertar a censura, verificar os delitos de opinião e exercer coacção sobre a liberdade de pensamento e de expressão dos cidadãos. É também improvável que viessem a ser alvo de processos disciplinares ou de exoneração se, por acaso, fizessem parte da rede de cumplicidades e interesses que se agregam em torno do partido no poder. Se a democracia está suficientemente consolidada para travar a bufaria institucionalizada, não é ainda madura ao ponto de evitar que o espírito bafiento e persecutório que os aparelhos partidários cultivaram nos últimos anos contamine o espaço público.
Quando Manuel Alegre diz que há pouco PS no Governo, ilumina-o esse velho espírito republicano que emula o debate livre, o empenho nas coisas públicas ou a necessidade de encarar a governação como uma responsabilidade de todos. O problema é que os partidos que em tempos cultivaram essas vocações estão moribundos e as parcas energias que lhes restam não estão orientadas para a discussão da polis. O PS, o PSD e os demais partidos deixaram há muito de angariar inteligência, de mobilizar ideias, de participar na discussão livre dos temas da agenda nacional. Pelo contrário, transformaram-
-se em simples máquinas facciosas que, quando chegam ao poder, se transformam em eficientes redes de disputa de cargos para os seus. O PS actual não é diferente. Com a elite do partido a governar ou a apoiar a governação no Parlamento, o aglomerado de aparatchiks que estão na base dedica-se a zelar pela obediência aos chefes, a acumular pequenos poderes, a espreitar a oportunidade de ocupar cargos e, obviamente, a remover do funcionalismo todos os que lhes possam travar a ambição. Ideias, propostas, debate? Essa é função para intelectuais. Alguém se lembra de uma intervenção relevante sobre o país de um presidente de uma federação distrital do PS?

Treinados a combater dissidências e a não criticar as hierarquias, muitos desses militantes encontraram na era Sócrates o lugar e o tempo ideais para transportar para a esfera do Estado a prática controleira e intolerante que foram aperfeiçoando nos corredores da vida partidária. São eles quem denuncia ao chefe a crítica (ou o insulto) que um estranho ao grupo faz no recato de um gabinete. São eles quem informa sobre toda e qualquer manifestação de desagrado ao poder. São eles que, pela sua simples existência, vão criando uma rede vigilante e intimidatória que institui o silêncio, fomenta a subserviência e premeia a delação. Um pouco por todo o lado, mas principalmente longe das grandes cidades, este ambiente de vigilância e de medo está a ameaçar dois dos bens que mais nos faltam: o da responsabilidade individual e o da autonomia.
Este risco, que o velho PS critica, não está a ser devidamente avaliado pelo Governo. Ao acolher e ao validar as denúncias, Sócrates e os seus ministros não estão a zelar pela autoridade do Estado ou a fazer cumprir os procedimentos disciplinares: estão, em primeiro lugar, a dizer aos militantes do PS que podem ser donos de um poder de censura legitimado pelo Governo.
Ao contrário de Guterres, que, no primeiro dia, pôs os boys no seu devido lugar, Sócrates e os seus ministros nada fizeram para convencer os militantes de que não é assumindo o papel de agentes infiltrados que melhor servem o partido e o país. Se a peste da bufaria continuar a grassar, grande parte da responsabilidade pelos seus efeitos terá um destinatário óbvio: o Governo. Manuel Carvalho

Ver o post, com este relacionado, no N&R desta mesma data, sob o título HÁ ALGUM PS NO GOVERNO?


domingo, 8 de julho de 2007

CENSURA!

P

Público.pt

SB 07JUL07

ESPAÇO PÚBLICO/OPINIÃO

De repente, acordámos e o

país é outro. O clima de

medo e delação está

instalado

Um sono profundo

07.07.2007,

São José Almeida

A Semana Política

Tenho um amigo, o Paulo Vidigal, dono de raro espírito de observação e de crítica, que pratica com uma sofisticada mordacidade e uma requintada ironia. Um dia destes, no final de um muito conversado jantar, o Paulo olha para mim e diz: "Sabes? As revoluções de esquerda são muito sonoras, vêm para a rua, fazem a festa, deitam foguetes, apanham as canas e vão-se embora. A direita não. Adormecemos descansados, embalados na história da bela democracia, e, quando acordamos, os gajos já estão instalados."
- Fernando Portel, director do Hospital de São João da Madeira há 17 anos e presidente da assembleia municipal eleito pelo PSD, foi afastado por ter criticado as reformas na saúde, durante o período de discussão pública das mesmas.
- Maria Celeste Cardoso, directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho, foi demitida do cargo, porque não retirou um cartaz da sala de espera do centro de saúde, onde o ministro era alvo de sátira. O cartaz foi aí colocado pelo médico Salgado Almeida, que é também vereador da CDU em Guimarães. O cartaz constava de uma notícia onde o ministro afirmava nunca ter ido a um SAP e tinha acrescentado à mão um apelo aos utentes para fazerem o mesmo. Na nota de exoneração da directora do centro lê-se: "Violou o dever de lealdade e também o poder de imparcialidade e isenções políticas."
- A directora regional de Educação do Norte, Margarida Moreira, instaurou um processo disciplinar ao professor destacado Fernando Charrua, por este ter dito uma piada sobre o primeiro-ministro, José Sócrates, durante uma conversa a três, à hora do almoço, com outros funcionários da direcção-geral. Margarida Moreira agiu depois de ter recebido a delação por SMS.

- O director-geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular expulsou a Associação de Professores de Matemática da Comissão de Acompanhamento do Plano da Matemática. A razão foi o facto de a associação ter criticado a ministra da Educação.
- António Balbino Caldeira, autor do blogue Portugal Profundo, é arguido de uma queixa-crime que foi apresentada por José Sócrates. O motivo é o que António Balbino Caldeira escreveu e divulgou no seu blogue sobre a licenciatura do primeiro-ministro.
- Circula actualmente nas redacções dos jornais e outros órgãos de comunicação social um abaixo-assinado promovido por um grupo de jornalistas, o Movimento Informação e Liberdade, que rejeita o conjunto de regras já aprovadas e em aprovação pelo Governo - leis da Rádio e da Televisão, Estatuto dos Jornalistas, lei anticoncentração dos meios de comunicação social, Código Penal - que mais não fazem do que tentar limitar e cercear o livre exercício do jornalismo e da liberdade de informar, chegando ao ponto de impor a violação do segredo profissional, ou seja, a denúncia de fontes.


imagem do PÚBLICO



A liberdade de opinião, de expressão, de pensamento está a ser atacada em Portugal e o país assiste calado. Dormita. Vai dormindo


Quando e como mudou o país enquanto dormíamos?
De repente, acordámos e o país é outro. O clima de medo e delação está instalado. Na função pública principalmente, mas não só. Interiorizam-se comportamentos de pavor de se vir a ser perseguido, castigado, subtilmente colocado numa lista de excedentes, caso se diga algo que seja visto pelo chefe como negativo ou subversivo.
"O dever de lealdade e também o poder de imparcialidade e isenções políticas", como na nota que demitiu Maria Celeste Cardoso, têm agora um novo significado, o da fidelidade canina, da obediência cega e sem limites, do yes, minister acrítico, da bajulação subserviente. O clima de autoritarismo e de arbitrariedade alastra. E a delação, a denúncia, o bufo, o pide é o instrumento a que se recorre e estimula.
A liberdade de expressão é atacada e cerceada. Um blogue é posto em causa e o seu autor denunciado como criminoso, porque tem opinião sobre factos que estão anunciados, noticiados e documentados, só porque em causa está o primeiro-ministro, que, pelos vistos, não gosta que o questionem.
Os jornalistas são domesticados pela lei. Calados pelo medo. Avisados de que o poder político está disposto a impor regras arbitrárias e antidemocráticas para não ser questionado nem incomodado.
Isto pela mão do PS. Partido que foi historicamente o paladino da liberdade antes e depois do 25 de Abril. E que hoje, comprovadamente, é outro partido. Um PS novo, onde parte festeja, ufano, porque acha que apenas está em causa o desenrolar da desejadíssima operação de substituir os boys e as girls do PSD pelos do PS. E na sua mediana tacanhez, ignorância e mediocridade nem percebem o sentido último e maior do que se anuncia. Outra parte come e cala, não rejubila, mas acha normal. Do velho e defunto PS, apenas Manuel Alegre se rebela e Mário Soares critica. E Vera Jardim mostra-se incomodado, mas acaba por justificar em nome do poder.
A liberdade de opinião, de expressão, de pensamento está a ser atacada em Portugal e o país assiste calado. Dormita. Vai dormindo.
Entretanto, a revolução avança. Uma revolução silenciosa. Uma revolução feita de cima para baixo, imposta pela classe dirigente, pela nova aristocracia, contra os que só trabalham. Uma revolução que tem como finalidade retirar os direitos sociais, económicos e, pelo que se vê, até cívicos e políticos. Através da instauração de um clima de medo. Precisamente, para que não haja resistência. Para que não exista contestação. Para que ninguém questione. Para que ninguém exija.
Um dia, quando acordarmos deste sono profundo em que nos deixámos cair, as pessoas e o seu bem-estar serão passado, farão parte da história, como uma peculiaridade europeia do pós-guerra. E os novos deuses reinarão: o lucro, o dinheiro, a especulação, o mercado. Jornalista

Ver o post, com este relacionado, no N&R desta mesma data, sob o título PARTIDO SOCIALISTA? ISTO?


terça-feira, 3 de julho de 2007

“A UNIÃO”


Público.pt

SG 02JUL07

OPINIÃO/PINGUE-PONGUE

A União

02.07.2007, Rui Tavares

Enquanto alguém vai para o trabalho de bicicleta em Amesterdão, um coro ensaia na Estónia e um barco pesca em Malta. Turistas esperam para entrar num museu de Florença. Turcos vendem kebab em Edimburgo. Estudantes de Frankfurt passam o seu Erasmus em Istambul, esforçando-se por dominar dois ou mesmo três idiomas. Pode comprar-se leite de rena na Lapónia ou houmous em Creta usando sempre a mesma moeda; melhor ainda, pode ir-se de um lugar ao outro sem mostrar o passaporte.
Quem diria? Para muitos, este é o retrato de um continente em decadência. Na verdade, todas as cidades e regiões atrás citadas (à
excepção de Istambul, que não está na UE mas cujo país já participa no programa Erasmus de troca de estudantes) fazem parte da mais interessante experiência política dos nossos tempos. São quase 500 milhões de humanos (só a China e a Índia têm mais população) numa extensão maior do que a de muitos impérios da história. Mas não é um império, é outra coisa, não se sabe bem o quê. Para muitos, deveria ser uma federação. Na verdade, pouco importa o que lhe chamemos. Eu sou um europeísta não por qualquer ufanismo europeu (na verdade estou mais próximo de um cabo-verdiano do que de um letão, e isso agrada-me) mas porque olhando para a União vejo que ela tem sido uma força de paz, liberdade e até alguma solidariedade. Com os seus muitos defeitos, a União está na primeira linha do Tribunal Penal Internacional, do Protocolo de Quioto, da cooperação e desenvolvimento. Nada disto é perfeito, mas pelo menos tenta-se.
Mas também sou um europeísta porque a União tem um grande futuro. Conheço bem, há muitos anos, as queixas dos europessimistas. Acho-as pouco convincentes. Que a União está velha (temos os velhos mais saudáveis e potencialmente mais produtivos do mundo). Que há muitos muçulmanos (que medo!, qualquer dia são quase três por cento). Que há poucos bebés (mas até os portugueses têm três meses de licença de parto paga, ao contrário dos norte-americanos). Que há imigrantes a mais (mas afinal não havia falta de gente em idade activa?). Que não faz parte da revolução tecnológica (só se inventou a Web, e em tempos mais recentes o Skype). Que está para trás na globalização (mas Londres, uma cidade da União, ultrapassou recentemente Nova Iorque como capital financeira do planeta). Enfim, que as regulamentações europeias são absurdas (mas graças a elas todo o mundo compra brinquedos mais seguros ou electrodomésticos menos poluentes).

Do lado europeísta, uma das coisas que mais se censuram à Europa é ela não ter exército nem hard power (assim em inglês "americano"). Isso não me preocupa. O "poder brando" é mais eficaz: os países que querem entrar sabem que têm de respeitar mínimos de democracia e direitos humanos. A União não exporta democracia à bomba, importa democracia com democracia. A questão que temos de resolver agora é: como manter a democracia dentro da União. A União não é uma utopia; é um compromisso. Mas deve ser, acima de tudo, um compromisso com a democracia. Ela é o nosso motor e o nosso horizonte; na falta de um cimento nacional ou linguístico, é a democracia que nos segura. É por isso que é difícil, exasperante até, ser europeísta com líderes europeus que têm medo da democracia.
Esquecem-se que irresponsável não é quem exige mais democracia, é quem foge a ela. Por mim, não me forcem a escolher entre os meus instintos europeístas e os meus instintos democráticos. Nesse caso, terei de preferir mais democracia com menos Europa a mais Europa com menos democracia.

(Ver o mesmo título no FLASH!)



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