sábado, 29 de janeiro de 2011

PEÇAS DO 'PUZZLE'


Peças do 'puzzle'
por BAPTISTA-BASTOS.......24 Janeiro 2011
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Mário Soares foi o vencedor das eleições. A astúcia e a imaginação do velho estadista permitiram que Fernando Nobre, metáfora de uma humanidade sem ressentimento, lhe servisse às maravilhas para ajustar contas. É a maior jogada política dos últimos tempos. Um pouco maquiavélica. Mas nasce da radical satisfação que Mário Soares tem de si mesmo, e de não gostar de levar desaforo para casa. Removeu Alegre para os fojos e fez com que Cavaco deixasse de ser tema sem se transformar em problema. O algarvio regressa a Belém empurrado pelos acasos da fortuna, pelos equívocos da época, pelo cansaço generalizado dos portugueses e pelos desentendimentos das esquerdas (tomando esta definição com todas as precauções recomendáveis). Vai, também, um pouco sacudido pelo que do seu carácter foi revelado. Cavaco não possui o estofo de um Presidente, nem um estilo que o dissimulasse. Foi o pior primeiro-ministro e o mais inepto Chefe do Estado da democracia. Baço, desajeitado, inculto sem cura, preconceituoso, assaltado por pequenas vinganças e latentes ódios, ele é o representante típico de um Portugal rançoso, supersticioso e ignorante, que tarda em deixar a indolência preguiçosa. Nada fez para ser o que tem sido. Já o escrevi, e repito: foi um incidente à espera de acontecer. Na galeria de presidentes com que, até agora, fomos presenteados, apenas encontro um seu equivalente: Américo Tomás. E, como este, perigoso. Pode praticar malfeitorias? Não duvido. Sobre ser portador daqueles adornos é uma criatura desprovida de convicções, de ideologia, de grandeza e de compaixão. Recupero o lamento de Herculano: "Isto dá vontade de morrer!"
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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

QUEM SEMEIA VENTOS…

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Da alegria de ter Aníbal Cavaco Silva como Presidente da República Portuguesa

A grande festa da democracia
TR 25.01.11, Por José Vítor Malheiros

Agora, que já tudo acabou, é tempo de fazer o balanço. E é preciso sublinhar que o balanço não pode deixar de ser considerado positivo.

Como já é habitual, esta eleição, muito personalizada, contou com um escol de candidatos que, apesar das naturais diferenças ideológicas, de estilo e de percurso, possuíam em comum um inegável leque de competências políticas e éticas. Todos ofereciam garantias de exercício de uma presidência empenhada no reforço da democracia e na redução das desigualdades, no desenvolvimento económico e no combate à corrupção. Foi reconfortante, mesmo antes das eleições, poder ter esta certeza de que, ganhasse quem ganhasse, o próximo mandato presidencial seria exercido de forma sensata e independente, seria um exemplo de um magistério equilibrado, de uma relação de lealdade e exigência com o Governo e os partidos, de uma estimulante intermediação com a sociedade civil e de uma irrepreensível probidade republicana. Mais do que isso, foi tranquilizador constatar que o candidato favorito era alvo, para além das normais críticas do combate político, de um indisfarçável respeito por parte dos seus adversários. Respeito pelo político, mas também pela pessoa. O seu brilhantismo intelectual, a sua lealdade na arena política, a sua visão estratégica, a sua integridade como cidadão foram referências sempre presentes ao longo da campanha e forneceram a todos os eleitores uma sólida confiança no futuro do país, apesar do quadro recessivo e das dificuldades que quase todos encaram.

A campanha constituiu um exemplo de envolvimento cívico e, se não permitiu um esclarecimento perfeito dos eleitores, pelo menos proporcionou interessantes debates sobre a actual situação política e as opções que se abrem aos portugueses. Particularmente importante foi a forma como cada candidato pôde explicar, sem demagogias nem azedume, de que forma iria utilizar a reduzida panóplia de instrumentos políticos do Presidente da República em prol do bem-estar dos portugueses. Surgiram neste debate pérolas de sabedoria e imaginação que são uma inspiração para todos os cidadãos e todos os candidatos.

Foi digna de nota a frontalidade e a disponibilidade com que o actual Presidente e candidato respondeu a todas as questões que surgiram na campanha, muitas das quais objectivamente incómodas e desagradáveis, a transparência com que facilitou toda a informação e satisfez todas as perguntas e, de uma forma geral, o seu empenho em não deixar qualquer dúvida nos espíritos dos eleitores. Particularmente notável foi a sua declaração de que "ninguém está acima da lei: nem os candidatos, nem o Presidente" e o seu fair-play ao afirmar que "as campanhas servem precisamente para questionar os candidatos e para esclarecer as dúvidas que possam surgir no espírito dos cidadãos". Notável também a sua réplica "A imprensa? A imprensa faz o seu papel, que é fundamental numa democracia".

A eleição contou, como se esperava, com uma afluência recorde às urnas, que já se tornou habitual na grande festa da democracia.

Raras vezes se terá ouvido um discurso de vitória tão elegante como aquele que Cavaco Silva pronunciou na noite das eleições. O Presidente-em-exercício-e-Presidente-eleito minimizou qualquer acrimónia que pudesse ter emergido durante o confronto eleitoral, cumprimentou os seus adversários e afirmou-se como garante da unidade nacional, acima da trica politiqueira e empenhado numa profícua colaboração institucional entre todos os protagonistas políticos. Soube-se depois que o Presidente eleito conta reunir todos os candidatos num jantar, que oferecerá uma semana depois da sua tomada de posse. O gesto é inédito, mas não surpreende. Cavaco Silva é, acima de tudo, um gentleman.

Em tudo isto, há apenas um senão: o facto de esta ser a única frase verdadeira de todo este texto. (jvmalheiros@gmail.com)

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Derrota do jornalismo
O bisturi

TR 25.01.11, Por Jorge Marmelo


Percebi, em tempos, que o agora reeleito Presidente da República mandou encomendar uma notícia que tinha como único objectivo prejudicar o Governo em funções - uma história muito fantasiosa que incluía escutas telefónicas e um suposto espião gorducho, à qual o PÚBLICO deu, meses depois, grande destaque. Quando, na última semana, ouvi Cavaco Silva afirmar que algumas notícias que o comprometiam tinham sido encomendadas, comecei, ainda assim, por não acreditar. Mas depois ocorreu-me que o homem sabia do que estava a falar. Ninguém percebe tanto de assaltos a bancos como um assaltante de bancos.

Uma vez, já lá vão uns anos largos, ouvi um dirigente local do PSD garantir que todos os jornalistas se vendem por uma sandes de queijo. "Só varia a espessura da fatia de queijo", acrescentou. Eu estava, então, a começar na profissão e tudo o que tinha aprendido ia contra aquela bazófia. Acreditava que a prática do jornalismo se destinava a permitir que os cidadãos estivessem informados sobre o que acontece no mundo, com rigor e em bom português. E acreditava que pessoas informadas tenderiam a fazer escolhas mais sensatas.

Hoje sou menos optimista. Tudo indica que as pessoas não fazem questão nenhuma de serem informadas, nem cuidam particularmente da sensatez das escolhas que fazem. Estão, de um modo geral, mais interessadas em saber a última coscuvilhice sobre um homicida mediático - se usa fato prisional, se gostava de raparigas, se era maricas, se... - do que na seriedade do chefe de Estado do país que lhes cobra impostos e mais impostos. Mesmo os jornais ditos de referência têm dias em que parecem ter-se esquecido do jornalismo. Perdem leitores e andam confusos. Produzem "conteúdos" - uma amálgama na qual convivem erros ortográficos, tendências capilares, gossip sobre famosos, trica política, encomendas, intrigas, anúncios apocalípticos, comunicados oficiais, simples imbecilidades e, vá lá, uma ou outra peça jornalística.

Ignoro, assim, se as notícias relativas às negociatas do Presidente da República com o BPN (e aos atropelos à lei nas obras da sua vivenda de férias) foram ou não encomendadas. Sei que apresentaram factos e que estes não foram desmentidos; e que uma das notícias vinha assinada pelo José António Cerejo, que é o mesmo jornalista que revelou, por exemplo, os abracadabrantes mamarrachos que o primeiro-ministro espalhou, enquanto jovem alpinista político, na paisagem da Guarda e de Castelo Branco.

O Cerejo é um colega que conheço mal e com quem não falo há muito tempo. Mas sei que é um profissional que sai da redacção, que sai de Lisboa e que passa horas a ler documentos para tentar descobrir alguma da verdade que se esconde por trás dos discursos e da gravidade encenada das poses de Estado. Podia, sim, ser só um mercenário disposto a aceitar a maior fatia de queijo que lhe ofereçam. Mas eu, talvez porque preciso de acreditar em alguma coisa e na utilidade daquilo que faço, prefiro ver nele um dos últimos de uma espécie em extinção: o jornalista.

Jornalista
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(Remetido de RÉPLICAS AO ABALO PROVOCADO POR CAVACO)
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sábado, 22 de janeiro de 2011

A IDADE DAS TREVAS

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Como o meu filho ia ter um teste de História, estive a estudar com ele e a fazer-lhe perguntas. A matéria era relativa à Idade Média. As classes sociais, o modo de vida de cada uma delas, pronto, esse tipo de coisas. Foi uma experiência muito engraçada, sobretudo para quem acompanha jornais e telejornais.

Estava eu a estudar os privilégios da nobreza e dei logo comigo a pensar que em Portugal , ainda não saímos bem da Idade Média. Na Idade Média, a mobilidade social era praticamente nula. A nobreza vivia fechada sobre si própria usufruindo dos seus próprios privilégios. Relacionavam-se entre si, casavam-se entre si, frequentavam os mesmos castelos, participavam nas mesmas festas e banquetes, olhando para o povo do alto dos seus privilégios sociais e económicos.

Ora, se virmos o que se passa em Portugal, temos de chegar à conclusão que no Estado há décadas dominado pelo PS e pelo PSD, existe cada vez mais uma feudalização da sociedade assim como uma organização social cada vez mais endogâmica.
Um bom símbolo da nossa miséria é o casamento entre a filha de Dias Loureiro, amigo íntimo de Jorge Coelho, e o filho de Ferro Rodrigues, amigo íntimo de Paulo Pedroso, irmão do advogado que realizou a estúpida e milionária investigação para o Ministério de Educação e amigo de Edite Estrela que é prima direita de António José Morais, o professor de José Sócrates na Independente, cuja biografia foi apresentada por Dias Loureiro , e que foi assessor de Armando Vara, licenciado pela Independente, administrador da Caixa Geral de Depósitos e do BCP, que é amigo íntimo de José Sócrates, líder do partido ao qual está ligada a magistrada Cândida Almeida, directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal, que está a investigar o caso Freeport.

Talvez isto ajude a explicar muito do que se passa com a Justiça, a Economia, a Educação.

Sobre a Educação, a minha área, vale a pena pensar um bocadinho. Haverá gente em Portugal a beneficiar com a degradação da escola pública?
Outra vez: haverá gente em Portugal a beneficiar com a degradação da escola pública?
Há. Claro que há.
Ora bem, quer entender porquê? E quem são? Quer mesmo? É fácil. Experimente sentar-se um pouco com o seu filho a estudar História.
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José Ricardo Costa, professor

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(Remetido de PÚBLICAS CONOTAÇÕES, FAVORES PRIVADOS).
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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

OS FILHOS DE CAVACO

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«Os filhos de Cavaco
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Cavaco Silva fez uma permuta para comprar o terreno da sua casa de férias. Os registos notariais não existem. Mais uma coincidência: no pequeno aldeamento de um ex-adjunto tem como vizinhos os homens fortes da SLN.

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Daniel Oliveira (www.expresso.pt)
8:00 Sexta feira, 14 de Janeiro de 2011

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Segundo uma investigação da "Visão", no período de pousio político, Cavaco Silva conseguiu um terreno, onde agora tem uma propriedade, através de uma permuta com um construtor civil. Não se sabe com quem e com quê foi feita a permuta. E o próprio Cavaco Silva não se lembra. Ao contrário do que informou o Presidente da República, a matriz da propriedade que é referida no Tribunal Constitucional não está nos registos notariais.
Sabe-se que o negócio foi feito por um ex-adjunto seu e que no pequeno aldeamento, financiado pelo BPN, em que quase tudo tem estranhos contornos, Cavaco tem como vizinhos Oliveira Costa e Fernando Fantasia. São dois homens fortes da SLN. Um vendeu e comprou acções a Cavaco Silva, dando-lhe um bom pé de meia. Outro fez excelentes negócios em Alcochete, socorrendo-se de informação privilegiada, depois do empenho dos cavaquistas em ver ali o novo aeroporto.
Será mais uma coincidência a rede dos negócios ser sempre a mesma?
Cavaco Silva pode continuar a dizer que os seus filhos saíram há muito tempo de casa e que não pode responder pelo seu comportamento tantos anos depois de lhes ter perdido o rasto. Mas, de cada vez que se cava um buraco, lá aparecem as mesmas minhocas. É coincidência que tantos filhos do cavaquismo tenham ido parar ao BPN? É coincidência que Cavaco tenha mantido, com todos eles e com o banco que eles construíram e que nos está a destruir, relações tão próximas? Que eles apareçam nos seus negócios privados, nas suas comissões de honra e nas listas dos financiadores das suas campanhas?
A verdade é que os filhos que Cavaco Silva renega quando se fala do BPN nunca saíram da sua casa. Construíram um banco que se mostrou ruinoso para o país com base nas redes clientelares do cavaquismo. E, na gestão da sua vida financeira e patrimonial, Cavaco Silva continuou a mover-se sempre nessa mesma rede.».
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Em complemento a este artigo veja: «Caso BPN: O que esconde Cavaco?» - donde ressalta o ar indisfarçavelmente embaraçado do Prof. Está tudo na cara do cavalheiro! (Felizmente que estes vídeos não transmitem odores…)


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Já agora, e para melhor compreensão:
“Em Albufeira, há uma urbanização especial, (na Praia da Coelha), onde têm casas Cavaco Silva, Oliveira Costa, Fernando Fantasia, da SLN, e Eduardo Catroga. A casa de Cavaco [que, como se poderia esperar não se chama “Meu Ninho”, nem “Meu Castelo”, mas foi antes favorecida pelo bom gosto de “Gaivota Azul”…] tem três pisos, seis quartos (cinco são duplos) e seis casas de banho, piscina e 1600 metros quadrados de área descoberta. O Presidente da República usa a casa desde o verão de 1999 e refere-a no registo que entregou no Tribunal Constitucional. Mas a escritura e a matriz não consta nem dos registos da Conservatória, nem do cartório notarial de Albufeira. Cavaco diz que não se lembra onde a assinou. Um seu colaborador disse à revista Visão que a propriedade foi adquirida “através de permuta com um construtor civil” cuja promoção de vendas, por acaso, era feita pela empresa Galvana, por sua vez controlada por duas empresas off-shore, a Griffin Enterprises Limited e Longin Limited, sedeadas em Gibraltar.” Esclarecidos, não estamos?

Venha então daí até à Praia da Coelha, uma coelha prenhe de celebridades ligadas ao SLN e ao BPN…



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(Remetido de A TROUPE DA SLN)

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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

OS TRISTES DIAS DO NOSSO INFORTÚNIO

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Os tristes dias do nosso infortúnio
29 Outubro2010 12:08
Baptista Bastos - b.bastos@netcabo.pt
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Na terça-feira, 26 de Outubro, p.p., assistimos, estupefactos, a um espectáculo deprimente.
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O dr. Cavaco consumiu vinte minutos, no Centro Cultural de Belém, a esclarecer os portugueses que não havia português como ele. Os portugueses, diminuídos com a presunção e esmagados pela soberba, escutaram a criatura de olhos arregalados. Elogio em boca própria é vitupério, mas o dr. Cavaco ignora essa verdade axiomática, como, aliás, ignora um número quase infindável de coisas.
O discurso, além de tolo, era um arrazoado de banalidades, redigido num idioma de eguariço. São conhecidas as amargas dificuldades que aquele senhor demonstra em expressar-se com exactidão. Mas, desta vez, o assunto atingiu as raias da nossa indignação. Segundo ele de si próprio diz, tem sido um estadista exemplar, repleto de êxitos políticos e de realizações ímpares. E acrescentou que, moralmente, é inatacável.
O passado dele não o recomenda. Infelizmente. Foi um dos piores primeiros-ministros, depois do 25 de Abril. Recebeu, de Bruxelas, oceanos de dinheiro e esbanjou-os nas futilidades de regime que, habitualmente, são para "encher o olho" e cuja utilidade é duvidosa. Preferiu o betão ao desenvolvimento harmonioso do nosso estrato educacional; desprezou a memória colectiva como projecto ideológico, nisso associando-se ao ideário da senhora Tatcher e do senhor Regan; incentivou, desbragadamente, o culto da juventude pela juventude, característica das doutrinas fascistas; crispou a sociedade portuguesa com uma cultura de espeque e atrabiliária e, não o esqueçamos nunca, recusou a pensão de sangue à viúva de Salgueiro Maia, um dos mais abnegados heróis de Abril, atribuindo outras a agentes da PIDE, "por serviços relevantes à pátria." A lista de anomalias é medonha.
Como Presidente é um homem indeciso, cheio de fragilidades e de ressentimentos, com a ausência de grandeza exigida pela função. O caso, sinistro, das "escutas a Belém" é um dos episódios mais vis da história da II República. Sobre o caso escrevi, no Negócios, o que tinha de escrever. Mas não esqueço o manobrismo nem a desvergonha, minimizados por uma Imprensa minada por simpatizantes de jornalismos e por estipendiados inquietantes. Em qualquer país do mundo, seriamente democrático, o dr. Cavaco teria sido corrido a sete pés.
O lastro de opróbrio, de fiasco e de humilhação que tem deixado atrás de si, chega para acreditar que as forças que o sustentam, a manipulação a que os cidadãos têm sido sujeitos, é da ordem da mancha histórica. E os panegíricos que lhe tecem são ultrajantes para aqueles que o antecederam em Belém e ferem a nossa elementar decência.
É este homem de poucas qualidades que, no Centro Cultural de Belém, teve o descoco de se apresentar como símbolo de virtudes e sinónimo de impolutabilidade. É este homem, que as circunstâncias determinadas pelas torções da História alisaram um caminho sem pedras e empurraram para um destino que não merece - é este homem sem jeito de estar com as mãos, de sorriso hediondo e de embaraços múltiplos, que quer, pela segunda vez, ser Presidente da nossa República. Triste República, nas mãos de gente que a não ama, que a não desenvolve, que a não resguarda e a não protege!
Estamos a assistir ao fim de muitas esperanças, de muitos sonhos acalentados, e à traição imposta a gerações de homens e de mulheres. É gente deste jaez e estilo que corrói os alicerces intelectuais, políticos e morais de uma democracia que, cada vez mais, existe, apenas, na superfície. O estado a que chegámos é, substancialmente, da responsabilidade deste cavalheiro e de outros como ele.
Como é possível que, estando o País de pantanas, o homem que se apresenta como candidato ao mais alto emprego do Estado, não tenha, nem agora nem antes, actuado com o poder de que dispõe? Como é possível? Há outros problemas que se põem: foi o dr. Cavaco que escreveu o discurso? Se foi, a sua conhecida mediocridade pode ser atenuante. Se não foi, há alguém, em Belém, que o quer tramar.
Um amigo meu, fundador de PSD, antigo companheiro de Sá Carneiro e leitor omnívoro de literatura de todos os géneros e projecções, dizia-me: "Como é que você quer que isto se endireite se o dr. Cavaco e a maioria dos políticos no activo diz 'competividade' em vez de 'competitividade' e julga que o Padre António Vieira é um pároco de qualquer igreja?
"Pessoalmente, não quero nada. Mas desejava, ardentemente desejava, ter um Presidente da República que, pelo menos, soubesse quantos cantos tem "Os Lusíadas."
b.bastos@netcabo.pt
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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A PÁTRIA NÃO É DE TODOS

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A pátria não é de todos
01 Outubro2010 11:55
Baptista Bastos - b.bastos@netcabo.pt

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Na mesma ocasião em que Pedro Passos Coelho se reunia com vistoso grupo de economistas, uma das televisões quis saber o que pensam os portugueses da actual situação.
Uns murmuraram a sua atroz ignorância, outros a sua melancólica indiferença. Até que uma mulher de idade avançada, com a desconfiança pregada nos olhos e a sabedoria procedente de todas as agruras, respondeu: "Não acredito em nada nem em ninguém. Eles estão lá para se encher.

"É o sentimento geral. A impotência associada à resignação; seja: o pior que pode acontecer a uma sociedade, abjurante das virtudes do civismo. Não é só o rotativismo de poder, disputado entre, apenas, dois partidos, que causa esta indolência moral. É a péssima qualidade intelectual dos políticos. É a clara evidência de que dividem o "bolo" entre eles, substituindo-se nas administrações, nos bancos, nas grandes empresas, aumentando os vencimentos a seu bel-prazer, auferindo-se bónus e mordomias escandalosos. Vem nos jornais. Nada do que digo ou escrevo é resultado de qualquer rancor: factos são factos.

Pedro Passos Coelho ouviu, daqueles santos sábios, o que queria ouvir. E eles também não queriam ou não sabiam dizer outra coisa. Isto anda tudo ligado, e as relações políticas, entre aparentes adversários, são grandes rábulas, alimentadas pelo embuste e pela mentira. Penso, no entanto, que o presidente do PSD devia escutar vozes dissonantes, opiniões divergentes que permitissem uma análise mais clara e acertada. Claro que não é só Passos Coelho que ouve o que deseja ouvir. Todos os outros dirigentes, Sócrates incluído, e na primeira linha, seguem a música de idêntica mazurca.

Os sábios que se reuniram com Sócrates são muitos daqueles que pertenceram a governos execráveis, culpados de tudo o que de pior nos tem acontecido. Quase todos eles detêm reformas de luxo, duas e três, e atrevem-se a debitar, para as televisões, patrióticas lições salvíficas. Uma vergonha! Um deles, com deficiências de fala e escuma aos cantos da boca, trabalhou seis meses no banco do Estado e recebe uma reforma vitalícia de três mil e seiscentos contos (moeda antiga) pelo denodado esforço desenvolvido. Cito-o com frequência por entender que o cavalheiro é o retrato típico de uma situação abominável.

Quem pode acreditar em gente deste jaez e estilo? Em gente desavergonhada que tem, escancaradas, as televisões, para dizer sempre o mesmo, ou seja: coisa alguma de importante.

Afinal, de que falaram os quase vinte sábios? Com a soberba que os caracteriza, indicaram os mesmos remédios para a superação da crise: cortes nas despesas da saúde, da educação, e da previdência; rebaixamento de salários na função pública; acaso a supressão do décimo terceiro mês; redução nas pensões, aumentos nos medicamentos. É o pacote consuetudinário sugerido por quem, de facto, não dispõe de outras ideias e soluções que não sejam as do breviário neoliberal. A OCDE, considerava "muito credível", veio rezar semelhante litania. E ai de quem a desmonte! É logo considerado comunista ou afim. Um pouco de decência não faria mal.

Observe-se os rostos desta gente. Atente-se no que dizem, prometem, formula. Não conseguem mobilizar ninguém, nem concentrar emoções ou sentimentos, exactamente porque os não possuem. No começo da revolução de Abril, o Governo lançou um alerta e um apelo: Um Dia de Trabalho para a Nação. O País aceitou o pedido e a invocação. E foi um belo momento de unidade nacional, uma acção colectiva de patriotismo e de esperança absolutamente inesquecível. E só a má-fé ou a má consciência podem distorcer o que foi um extraordinário acontecimento político e social.

As frases daquela mulher, na televisão, ressoam como uma tragédia: "Não acredito em nada nem em ninguém. Eles estão lá para se encher." E a verdade é que o enriquecimento surpreendentemente rápido de muitos deles; a pesporrência arrogante da esmagadora maioria desses senhoritos é mais do que desacreditante: é sórdido.

Os jornais e as revistas, de vez em quando, publicam os nomes, os rendimentos, as casas luxuosas, os iates, os carros topo de gama dos que nos exigem sacrifícios, suor, renúncia, abnegação. Exigem mas não praticam. E, se o fazem, as beliscaduras nas suas fortunas são tão delicadas, tão suaves que eles nem dão por isso. Quando se tira a um reformado o mais escasso dos cêntimos as dificuldades que daí advêm são de tal monta, e as consequências imediatas são terríveis.

Os sábios que foram dizer a Passos Coelho o que este, comovidamente, queria ouvir, não estão ao lado de quem sofre e está na mó de baixo. A indiferença nunca ocultada, a ganância jamais dissimulada, o luxo em tempo algum encoberto (bem pelo contrário) constituem eloquentes testemunhos da casta a que pertencem. Portugal continua a ser, como escreveu João de Barros, "país padrasto e pátria madrasta" - para muitos, bem entendido, e "ridente torrão de malandros" [ Filinto Elísio, "Sátiras"] para os que se ajustam.

b.bastos@netcabo.pt

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(remetido de “OS PÉRFIDOS FILHOS DA PÁTRIA”)

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