PÚBLICO
Cartas ao Director
22.03.2007
Agora que Salazar parece em vias de ganhar pela primeira vez uma "eleição", e logo contra o Afonso
Nas eleições legislativas, o método também era infalível. Nas eleições de 1957, por exemplo, em Lisboa, na véspera da eleição, os responsáveis pelas mesas eleitorais foram chamados ao governo civil, onde receberam "a indicação do resultado da votação do dia seguinte" com uma margem de erro de 2 por cento. Assim, na freguesia de São João da Pedreira, o resultado devia ser 56 ou 57 por cento.
No dia seguinte, houve guardas republicanos que andaram pelas mesas de voto a levar pacotes de votos de "guardas que estavam de piquete", que foram metidos nas urnas pelos presidentes das mesas. Mas isto teve uma relativa pouca importância.
Perto do fim, depois de assegurada a ausência de testemunhas inconvenientes, os elementos das mesas multiplicaram o número total de eleitores por 0,57 e dividiram o resultado pelo número de páginas dos cadernos eleitorais. Tiveram, assim, o número de eleitores de cada página que "deviam votar".
Procederam, então, sem se preocupar em lançar votos nas urnas, à operação de "compor os cadernos eleitorais", descarregando conscenciosamente nos dois cadernos o conveniente número de eleitores que "tinham" votado. A operação foi acompanhada de comentários do tipo: "este é comunista, mas desta vez vai votar no governo."
Depois, enviaram para o governo civil um documento a dizer: "percentagem de eleitores: 57 por cento." Mas não se ficaram por aqui: abriram as urnas, contaram os votos e enviaram para o governo civil um outro documento a dizer. "Percentagem real de eleitores, tantos por cento."
No caso concreto de uma mesa, a percentagem real de eleitores, incluindo os votos dos "guardas de piquete" e 50 votos riscados foi de 28 por cento, mas os elementos da mesa enviaram um documento a dizer que a "percentagem real" era de 30 por cento. É provável que, quando chegasse ao Salazar, esta percentagem já fosse um bocadito mais alta.
Fui testemunha parcial destes factos em 1957. Uma outra testemunha foi o escritor Luiz Pacheco a quem envio, 50 anos depois, as minhas saudações e que devia ser agora ouvido. Como comentador da "eleição de Salazar" e porque pode confirmar factos importantes para esclarecer um país que, 30 anos depois do 25 de abril, ainda está muito mal informado.
Que, ao falar nas eleições do "antigamente", ainda fala em chapeladas, como se a fraude "dos guardas que estavam de piquete" e de uns tantos legionários fosse a mais importante. Salazar era muito mais subtil. Quarenta anos depois de morto, ainda engana o país.
E não só. Quando em Novembro de 1957 cheguei a França vi que os jornais franceses analisavam a situação portuguesa a partir do resultado de 57 por cento de votos obtidos pelo governo nas últimas eleições legislativas.
Lisboa
Ver “UM TESTEMUNHO”
2 comentários:
Eu,cidadão eleitor antes do 25 de Abil,tive sempre o meu voto descarregado em Mafra.
Soube isso nas eleições de 69 ou 70(já não me lembro),pois quando fui votar onde estava "recenseado" nessa altura,foi-me EXPLICADO que eu já tinha votado em Mafra como de costume.
Em Mafra,tinha estado de passagem,a fazer o Curso de Oficiais Milicianos.
Estas e outras deveriam ser investigadas e divulgadas por uma imprensa e televisão sérias!
É que há muito boa gente nova, hoja em dia, que pensa que tudo se passou exactamente ao contrário, isto é, os fascistas eram bonms rapazes e foram os malandros dos comunistas que começaram a enganar o povo depois do 25 de Abril.
Se o Pessa ainda "reportasse", diria sem dúvida: E esta, hein?
Um abraço amigo
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